Um cusco de regresso a casa .
Quando cheguei à sala de embarque para o vôo Londres –Lisboa , encontrei-a cheia de pessoas de idade , alguns em cadeiras de rodas , mostrando a intimidade própria das excursões . Era um grupo de católicos irlandeses em peregrinação a Fátima.
- Eu conheço-a ? perguntou uma freira com óculos muito grossos e uma notável barba , a uma senhora igualmente velha que surgiu numa cadeira de rodas empurrada por uma senhor da mesma idade , que arrastava a perna direita .
-Acho que não , o meu nome é Angela ! foi a resposta
-Aaah Andrea , bonito nome ... e antes que a irmã dissesse algo sobre santa Andrea ( deve haver uma ) , a outra senhora insistiu :
- Não , Angela , An-ge-la !
-Ah Angila ...
Ao lada da freira estava sentada outra avózinha de cabelo branco com reflexos azulados , que disse um pouco irritada :
- AN-GE-LA , foi o que a senhora disse !
Nessa altura uma excursionista mais nova ( 50 anos ? ) , que tinha acabado de dividir judiciosamente um chocolate em quadradinhos , começou a oferecê-lo aos membros da excursão que se encontravam mais próximos . Foi então que reparei no emblema ostentando a palavra PAX , cravado no peito de todas essas pessoas de idade e que unia mesmo os que não se conheciam.
Minutos antes , enquanto a senhora iniciava a divisão do chocolate , a minha vizinha do lado ( também ela com o tal emblema ) comentou para o seu acompanhante : Olha aquela , comeu um pequeno almoço gigantesco e já está a comer chocolate ! e o homem respondeu : Bem , o verão já acabou e ela não vai para Fátima exibir o fato de banho !
Agora que todos estamos no avião e a senhora do chocolate ficou a meu lado penso que os outros dois se deveriam confessar antes da missa de amanhã ...
Sim , porque eu consegui ver o programa das festas , distribuído pelo padre Andrew a todas as ovelhas com emblema . Eram 7 dias , dos quais 2 dedicados à viagem , 3 em Fátima com doses diárias de missas e terços e dois dias livres . No prospecto havia a indicação de serem as missas concelebradas pelo jovem padre .
Quando vi este rapaz falando para um grupo de pessoas que podiam ser os seus avós , notei que ia passando por entre os dedos da sua mão esquerda um crucifixo , tal como fazem os árabes . Mas , algo nos seus gestos me trouxe à cabeça a palavra “fondling” , essa palavra redonda , em que o “l” nos obriga a uma actividade da língua na boca que diz muito sobre a carga erótica da expressão
Não sei se estão a rezar ou a dormir , mas portam-se bem , o avião não abana como seria de esperar com tal carga de irlandeses . Estes (acho eu ) já perderam o gás há algum tempo .Fui eu o único a pedir um Jameson ...que diabo , temos de aproveitar .
Eram irlandeses de idade , gente em peregrinação , gente de respeito que pasma ante um pobre rissol que a Tap achou por bem incluir na nossa surrealista refeição . Sobre o que lhe puseram à frente para comer , a terceira senhora da fila 15 do lado direito ( a minha ) perguntava para que era o pacotinho de açúcar , e eu , com o meu ar de experimentado passageiro achei por bem esclarecer a pobre , dizendo-lhe que em breve seria servido o café . Parecia um assunto encerrado , mas não foi assim pois a senhora respondeu-me que era diabética e estava a comer a sua special meal do tipo “sugar free” , e por isso estranhava o sigelo pacotinho . Chorou ao aterrar , mas aí sem razão pois tudo correu bem . A Tap pode não ter boa comida e não encontrar entre os seus quadros qualquer funcionário capaz de falar um inglês compreensível fora de Portugal , mas tem bons pilotos . “leides an gents dissiz ió captein Manuel José Barahona da Linha spikn ..”
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